março 20, 2012

O Silêncio na Comunicação




O silêncio na comunicação




Na Quaresma o Papa com os seus colaboradores na Cúria romana, os bispos, o clero, os movimentos e serviços da Igreja costumam fazer uns dias de retiro, de reflexão e oração em silêncio, em lugares recolhidos. Vivemos num mundo de grande ruído, palavreado, conversas fiadas, entretenimentos para passar o tempo, discussões em família, na rua, no trabalho, nos areópagos da politica, nos mercados financeiros e económicos, nos meios de comunicação, etc, etc. Precisamos todos de silêncio, para mantermos a saúde física, mental e espiritual. Muitos esquecem-se de que a comunicação começa pela escuta, pela atenção, pela admiração, pela contemplação. Até mesmo a oração é, em primeiro lugar, escuta em silêncio. Por isso vou tentar nesta breve nota realçar o valor desta faceta na comunicação na relação dos homens entre si e com Deus, no caso dos que teem fé.



1. Aprendizes da escuta

Ninguém nasce ensinado. Todos precisamos de aprender. Mas parece que alguns sabem tudo ou presumem saber. Por isso muitas vezes se enganam. A atenção, o estudo, a humildade são fundamentais para a comunicação e para a aprendizagem da vida e de qualquer profissão. Mesmo os políticos, pessoas adultas, poderiam exercitar mais estas virtudes. No confronto com a complexidade dos problemas ficar-lhes-ia bem reconhecer que se enganaram quando na propaganda eleitoral criticaram os outros e prometeram mundos e fundos. O povo perdeu a confiança nos líderes políticos, porque muitas vezes se contradizem e nunca o querem admitir. A pedagogia do filósofo Sócrates continua a ser uma grande escola. A maiêutica ou arte de ajudar a nascer a verdade nos discípulos, envolvendo-os na busca, com perguntas de parte a parte, silêncios de escuta também, é um método de grande importância para a comunicação e para o entendimento entre as pessoas.

Esta atitude é também recomendada em momentos importantes da revelação bíblica, quando os patriarcas e os profetas dizem ao povo para escutar o que Deus lhes quer dizer, também relembrando toda a sua história. Aplicável também na missão da Igreja, como podemos constatar pelas narrativas evangélicas. Jesus respondia muitas vezes aos seus interlocutores com uma nova pergunta e, caso a resposta fosse sincera, rematava que responderam bem e não estavam longe do seu reino (cf Mc 12, 34). Quando as perguntas eram apenas ciladas e não desejo de saber a verdade, Jesus, muitas vezes, respondia com o silêncio ou então com um dilema, para fazer pensar.



2. A oração no silêncio

Como referi na última nota, em momentos importantes e decisivos da sua vida Jesus recolhia-se e rezava, para que conhecesse a vontade do Pai, se conformasse com ela e a pusesse em prática. Além da oração no jardim das oliveiras, antes de ser preso, muitas vezes Jesus retira-se para um lugar ermo ou para um monte alto, onde permanece em oração durante a noite. A oração antes da escolha dos discípulos, a oração sacerdotal, a transfiguração, o elevar dos olhos ao céu ou a invocação do Pai antes dos milagres são disso testemunho.

E quando a pedido dos discípulos lhes ensina o Pai Nosso, ele recomenda para não usarem muitas palavras como os pagãos, mas para se retirarem no silêncio do seu quarto, a sós e aí invocarem a Deus, sem repetições de palavras (cf Mt 6, 5 ss). O cobrador de impostos que, ao fundo do templo, apenas dizia: ó Deus, tem piedade de mim que sou pecador (Lc 18, 13), e por isso voltou justificado para sua casa, ao contrario do fariseu que, altivo, apenas se auto elogiava, julgando-se melhor que os outros e saiu do templo mais pecador ainda.

A mensagem de Bento XVI para o dia mundial das comunicações deste ano, que ocorre sempre na festa da Ascensão, tem precisamente por tema a palavra e o silêncio, afirmando que a verdadeira comunicação precisa do silêncio, da escuta, da contemplação. Este mesmo tema desenvolveu na audiência semanal das quartas feiras, no dia 7 de Março. Vale a pena ler estes dois textos e perguntar-nos como é a nossa comunicação uns com os outros e, na oração, com Deus. A verdade e o amor não precisam de muitas palavras, mas de simplicidade, transparência e coerência. Se isto se aplicasse nas relações entre os homens e nos tribunais, depressa a verdade viria ao de cima, a justiça seria mais célere e dispensar-se-ia a multidão de testemunhas, de palavreado e de papeis. Mas andamos longe das recomendações evangélicas e do Reino de Jesus Cristo.

Na Quaresma temos oportunidade de renascer, de nos convertermos à autenticidade e simplicidade, num frente a frente com a verdade do nosso ser.



† António Vitalino, Bispo de Beja

Avé Maria Puríssima !

Santa Beatriz da Silva

As Irmãs a seguir

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